
Ainda com máscara, os olhos de Flávia Carvalheiro de Mello, de 58 anos, não esconderam a emoção de estar indo para casa. A moradora de Sorocaba (SP) sofreu duas paradas cardiorrespiratórias, duas pneumonias e passou por traqueostomia durante o tratamento contra a Covid-19. Após 50 dias internada, recebeu alta nesta semana.
Na saída da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba, os profissionais da saúde e familiares fizeram uma homenagem com balões brancos e aplausos no corredor. Ainda na cadeira de rodas, a despedida não foi apenas do hospital, mas dos dias difíceis que passou.
“Não é fácil, dói. Vi coisas que eu não queria ver e entreguei para Deus. Agora estou aqui, saber que vou dormir na minha cama, com o cheiro da minha casa”, contou Flávia, ao G1.
A paciente é mãe de três filhos e dona de uma ótica no Jardim Emília, em Sorocaba. Após o serviço ser autorizado a funcionar, Flávia continuou trabalhando.
"Ela esterilizava a loja inteira, mas pode ter sido uma ida ao mercado que provocou o contágio. Todo mundo que teve contato com ela fez o exame e deu negativo", explica a filha de Flávia, Fabiana de Mello Sodré, 35 anos.
Segundo a filha, Flávia estava com a imunidade baixa e isso pode ter afetado ainda mais na recuperação. "Foram dias difíceis, tensos, mas nunca perdi a fé. Dentro do meu coração eu tinha certeza que ela ia se recuperar", relata Fabiana.
Flávia ainda não recuperou o movimento nas pernas, mas começará o tratamento de fisioterapia em breve. “Se Deus quiser, eu volto a andar”, conta.
O diagnóstico
Os primeiros sintomas que surgiram foram cansaço e dor de garganta. No dia 15 de junho, Flávia procurou a Unidade Pré-Hospitalar da Zona Oeste para saber se estava com a Covid-19.
“Ela começou a ter os sintomas e fomos até o hospital. Disseram que era sinusite, mas ela continuava mal”, conta Fabiana.
Ao não notar uma melhora no estado de saúde, Flávia procurou um hospital particular e testou positivo para o coronavírus. A tomografia detectou na época que o pulmão já apresentava 25% de comprometimento.
Depois de alguns dias, o quadro piorou. Flávia foi internada na UPH da Zona Leste. No dia 22 de junho, foi encaminhada para o Hospital de Campanha de Sorocaba e após cinco dias, foi entubada e encaminhada para a Santa Casa da Misericórdia de Sorocaba.
“Eu falava para a minha filha: ‘Pelo amor de Deus, não me deixa ser ietubada’. Quando acordei, eu já estava na ala da Covid-19, na Santa Casa”, conta Flávia.
De acordo com a filha, Flávia ficou 17 dias entubada e sofreu duas pneumonias. "Quando minha mãe acordou, ela ficou muito assustada. Ficou ruim psicologicamente e chorava muito, porque ela só lembrava do momento antes da entubação", comenta Fabiana.
Após a desintubação, Flávia recebeu atendimento com psicólogo e com assistente social do hospital, o que foi fundamental na recuperação. A comerciante teve alta na segunda-feira (10).
'Feliz por estar viva'
Mesmo com dificuldade de falar, por causa da traqueostomia, Flávia contou que levava um estilo de vida baseado apenas no trabalho e isso a fez refletir.
"A gente esquece que o ano passa e pensa que é menininha a vida inteira. Você faz uma reflexão de tudo o que vive, o que é a vida, o sol, o mar", comenta Flávia.
Em entrevista ao telefone, Flávia expressou gratidão aos profissionais da saúde e relatou que reza todos os dias para quem está nos hospitais lutando contra a doença.
"A homenagem foi linda, fizeram uma oração na frente do hospital. Estou feliz por estar viva", finaliza Flávia.
Veja mais notícias da região em G1 Sorocaba e Jundiaí
